Brincar
Pensar na infância
Me faz galopar
Nos cavalinhos
Feitos pelo meu pai
Ele não brincava
Só olhava
As nossas peripécias de criança
E sorria
Quem sabe brincava através de nós
Na construção desse mundo galopante
Feliz
Cheio de algazarras...?
Quando Mané passava no carro de boi
Corríamos
Meus irmãos e eu
Pulávamos no cocho
Que deslizava
Puxado pelo carro de boi
Guiado por Mané
Que na sua lida diária
Sempre abria aquele sorriso
Quase todo desdentado
Ele também era brincante
E gostava de aventuras
Logo depois
Saíamos em disparada
E já longe
Embrenhados no mato
Trilhando novas aventuras
Ouvíamos a sua gargalhada
Éramos desbravadores inocentes
Remexendo o passado
Restos de cerâmica
Enterrados pelo tempo
História da família
Uma riqueza de cores, beleza, tristeza
Transformada em lixo
Cheia de pedaços de passado
Construíamos e desconstruíamos
Brinquedos e brincadeiras
E assim
Mesmo sem saber
Éramos arqueólogos
E recicladores
A serviço da plenitude do brincar...