À FILHA GISELE BIBIANA
No ano de sessenta e nove
correndo o mês de dezembro,
como se fosse hoje eu lembro:
barriga grande, pontuda,
Teresinha pedia ajuda
dizendo: coiceia bastante,
eu já distinguia o semblante
dum filho de sobre muda.
Era tudo diferente
na gravidez de mia china,
doutor João, de relancina:
corre tudo muito bem,
é pro fim do mês que vem
será um guri taludo.
Pensava: peão macanudo!
Não cairá para ninguém!
Todos quedamos menino.
Terminou o mês de janeiro,
entrou no de fevereiro
e a barriga que se expande,
cismava: quero que ele ande
de bombachas, chapéu, botas,
para cantar entre notas
a história do meu Rio Grande.
Finalmente vieram dores,
tarde, chamei o doutor João,
ele meio de supetão:
(estava pronto pro carnaval)
vamos! Disse ele, afinal
já estava desconfiado,
é missão do doutorado
o sacrifício pessoal.
Quando chegou lá em casa
dona Joana já via tudo,
disse-nos ele sisudo:
iremos esperar a hora,
porém, logo sem demora,
a Teresinha gemeu alto,
foi aquele sobressalto
quando vi, estava lá fora.
Passado porém o susto
retomei pé ante pé,
apelando à minha fé
pois estava distraído,
entramos todos corridos
para o interior do quarto,
estava prestes o parto
disse o doutor comovido.
Teresinha fez esforço
tentando empurrar a cria,
curioso muito sofria
sem nada poder fazer...
ouvi o médico dizer:
antes, tiremos o braço,
pois estava com um laço
no pescoço, a escurecer.
Com toda calma e paciência
o doutor resolveu tudo,
fiquei bastante sisudo,
com o nome da menina:
chamar-se-ia "Colombina"
pediu-me o doutor sorrindo,
até logo foi-se ele indo
dizendo: esta é minha sina.
Nós negamos-lhe o pedido
ela é GISELE BIBIANA,
a filha que muito ufana
aos corujas, mãe e pai,
é a rebenta que vai
tenho certeza ao dizer,
dar alegria, dar prazer,
ao nosso País que hora sai.
Margem direita do rio Yá-Balaio
São Gabriel da Cachoeira-AM,
2 de agosto de 1990.