AMARGO DA VIDA
Chimarrão! Seiva da terra,
que meus penares encharcas,
pois vais fixando as marcas
num sofrimento já longo
e a cada gole que alongo
da seiva macha de ervais,
cada vez me prendo mais
no bojo do teu porongo.
A prenda que tanto amei
relembro, seiva gaudéria,
foi quando na mesma artéria
eu senti o calor da boca,
daquela, que em voz já rouca,
para mim se declarou,
no momento ela provou
que sua paixão era louca.
Nós atamos os porongos
bem juntos, no mesmo tento,
passamos por sofrimentos,
alegrias e dissabores,
e curtindo as mesmas dores
na estrada longa da vida,
mas sempre de almas unidas
fomos ninhos de condores.
Ao calor das brasas rubras
esperando a água chiar,
eu me paro a recordar
do que já fiz nesta vida
e nesta cara sofrida
com rugas, toda vincada,
eu sinto que não sou nada
perdendo, antes da partida.
Para acalmar os meus males
vieram três lindas criaturas,
angariando em suas canduras:
carinhos, admiração,
o meu rude coração
enfraquecido reclama,
a Nosso Senhor conclama
para dar-me o eu perdão.
O tento, união dos porongos,
rustiu, acabou arrebentando,
o amor que vinha vingando,
secou, terminou sumindo,
aos poucos foi-se esvaindo
o carinho e o sentimento,
não há mais arranchamento
o nosso rancho está caindo.
Tudo por causa de ciúmes
este canceroso mal,
cravou-me ao peito o punhal
maldoso da desunião,
minha vida de cristão
outrora muito adorável,
agora ficou intragável
só resta a separação.
Mas, devido aos três tentinhos,
eu paro-me, penso e fico,
esfumado pelo angico
pau verde que vai queimando,
quem sabe se até chorando,
se pela fumaça ou dor,
mas somente o meu interior
é que está se machucando.
E no chimarrão da vida
sou água que ferveu e secou,
um tento que arrebentou
aos manotaços dos anos,
ponteado de desenganos
eu sou assim desde menino,
cumprindo com meu destino
traçado pelo Paisano.
AM-010(BI-1), 13 de agosto de 1979