Cortina do Passado I



Às vezes abro a cortina do passado
E sento-me a janela da lembrança
Espio sorrateiramente o nosso roçado
Eu, ainda uma criança

Papai, nos ombros me levava
O caminho era cheio de espinho
E o meu pezinho machucava
Papai olhava pra mim com carinho

Com sabedoria sempre me orientava
Chegando a casa da vovó
Pedia a sua bênção e a sua mão beijava

Deixava-me livre a brincar
Eu ia a vovó perturbar
Pedia a linguiça que estava a defumar

Vovó subia ao fogão
E pegava uma inteira
Pra eu comer com pão.

Papai não gostava disso não
Fazia cara feia
De quem comeu e não gostou

Na volta pelo caminho
Livrava-me dos espinhos
Mas do sermão! Não me livrava não.
Angeluar
Enviado por Angeluar em 22/06/2014
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