RENATO
RENATO
Uma dor que oprime,
Um golpe que aniquila,
Um gemido,
Um estertor, e a vida desmorona...
E desfaz-se a ilusão,
O futuro se apaga,
E ao nada se retrai o muito que foi nosso.
A existência findou; pouco nos resta agora;
Pouco... Disse eu pensando
Que o teu corpo sofrido a terra entregaremos,
Mas não pouco afinal, se ao coração nos deixas:
As lembranças de ti,
O teu sorriso manso,
Aquele meigo olhar que era o teu encanto,
Que falava de ti, talvez mais que quiseras,
Por revelar a dor que em teu peito afogavas,
E, em vão, combatias, a ocultar, sorrindo.
No olhar de tua mãe tu hás de ser constante;
No triste coração que a dor fez em pedaços,
Tu irás renascer: nele serás ainda,
O menino trigueiro desafiando a vida,
O rapaz descuidado a desdenhar conselhos,
O homem feito, consciente da realidade.
Guardaremos de ti que melhor tiveste:
Teu feitio tranquilo,
Teus gestos contidos,
Tua amizade atenta,
Tua palestra amena, sem agravo ou lamento.
Tão sem queixas levaste a cruz ao teu calvário,
Essa cruz que te arruinou os bens da mocidade,
Denegou-te o porvir, abreviou-te o ocaso,
Há de as portas de Deus vir a te abrir, por certo.
(A meu primo Renato Godinho)