RENATO

RENATO

Uma dor que oprime,

Um golpe que aniquila,

Um gemido,

Um estertor, e a vida desmorona...

E desfaz-se a ilusão,

O futuro se apaga,

E ao nada se retrai o muito que foi nosso.

A existência findou; pouco nos resta agora;

Pouco... Disse eu pensando

Que o teu corpo sofrido a terra entregaremos,

Mas não pouco afinal, se ao coração nos deixas:

As lembranças de ti,

O teu sorriso manso,

Aquele meigo olhar que era o teu encanto,

Que falava de ti, talvez mais que quiseras,

Por revelar a dor que em teu peito afogavas,

E, em vão, combatias, a ocultar, sorrindo.

No olhar de tua mãe tu hás de ser constante;

No triste coração que a dor fez em pedaços,

Tu irás renascer: nele serás ainda,

O menino trigueiro desafiando a vida,

O rapaz descuidado a desdenhar conselhos,

O homem feito, consciente da realidade.

Guardaremos de ti que melhor tiveste:

Teu feitio tranquilo,

Teus gestos contidos,

Tua amizade atenta,

Tua palestra amena, sem agravo ou lamento.

Tão sem queixas levaste a cruz ao teu calvário,

Essa cruz que te arruinou os bens da mocidade,

Denegou-te o porvir, abreviou-te o ocaso,

Há de as portas de Deus vir a te abrir, por certo.

(A meu primo Renato Godinho)

hortencia de alencar pereira lima
Enviado por hortencia de alencar pereira lima em 14/05/2014
Código do texto: T4805953
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