Relicário
Só, um brinco não faz par
Só, na brincadeira a criança, se cansa
Só, na dança, um passo solo
Nunca estive só...
Sempre acompanhado por Deus
na hora dos meus medos
me deu mãos e bênçãos
(pais e irmãos)
Passei a vida acumulando débito
parecia um desperdício
Pelo artifício do dom
que é quando escrevo
espero alterar minha sorte
(de quatro folhas um trevo)
Por quantas folhas de papel, for
a minha vida, escorro
pra pagar essa dívida antiga
que se abriga
no peito de quem me ama
Este livro é o meu jardim
convido à minha casa, meus afins
Declaro o meu amor
por quem me ama. Sempre amei
Plantei grama, plantei flores
protegi meus amores
sob a sombra da árvore que tenho sido...
tenho dado abrigo...
Até despedaço-me para gerar o papel
que como anel, nos marca o laço
Morro e me enterrem neste jardim
neste relicário
Derramo-me, vertendo nesta calha
caibo nesta mortalha
Calho de ser um entre os meus
e à minha família e amigos
vivo ou morto
me abraço
NOTA: período 2002-2008