FAZEDOR DE PALAVRAS NA DISTANCIA

RAIMUNDO NONATO

Para meu pai...

O primeiro da linhagem dos que partiram

O fazedor de palavras na distância

Que abriu caminho para o sol

Comeu as estrelas do céu

Bebeu um rio inteiro

E partiu alongando a distância,

Esse boi mandingueiro

Que sempre escapa ao laço.

Conheceu a dona do seu futuro

A fazedora de vestidos longos.

A mulher que fez dos dias uma trança

E construiu a casa dos seus cabelos brancos

Viu os filhos seguirem pelo mundo

Com seus caminhos tortos

Levou as filhas até o altar

Deixou os netos correrem nas suas costas

E veio o frio da idade

O corpo encolhendo antes da noite

O esquecimento como uma porta aberta

E o silêncio secou sua boca.

Ele, que não fechou os olhos de sua mãe

Não viu seu último suspiro

Nem galopou com seu pai

A última aventura além da cerca

No lado escuro da serra

Acorda todos os dias para lembrar

Que nascer é mais que estar no mundo.

Ricardo Nonato 19.09.2013

RICARDO NONATO ALMEIDA DE ABREU SILVA
Enviado por NATINHO SILVA em 07/03/2014
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