COSTURANDO TEMPO

MARIA ALMEIDA

Minha mãe

A que também partiu

com uma lata na cabeça

Subiu o rio com seus sonhos úmidos

Cortou os cabelos na viagem

E vestiu o branco da cura.

Em seus braços fui embalado

O primeiro dos sete filhos

Que a força dos dias fez crescer.

Minha mãe

hoje sei...

Você me ensinou a imaginar

O impossível com os dedos.

Nos desenhos infantis viu mais

Do que rabiscos

E um sorriso longo acompanhou meus dias

O traço incerto

Iniciado antes do meu nascimento.

Os anos que venceram seus cabelos negros

Também embaçaram seus olhos

Não a força de amar escrita nas muitas noites de solidão

E a mesma maquina costurando o tempo

E suas mãos tateando os móveis

A toalha rendada trazida de tão longe

O velho relógio com suas cordas cansadas

A cama da infância que perdeu sua cor

No quartinho das lembranças

Com suas fotos desbotadas e a mesma alegria

Inaugural dessa viagem

Iniciada há muito tempo

Ainda carrega o frescor da saudade.

Ricardo Nonato 16.09.13

RICARDO NONATO ALMEIDA DE ABREU SILVA
Enviado por NATINHO SILVA em 06/03/2014
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