Lamento do Baiano

Sim... é verdade menino, também já tive

sua idade. Faz tempo... sei que o que vês

não lhe permite crer, a figura que vês

me nega em demasia.

Minhas faces eram rosadas, meus olhos

Eram brilhantes, meus cabelos mais negros

Que uma noite chuvosa e fria.

Minha vida era delirante, meus passos

Ligeiros. Eu corria, corria ao vento e

Com alegria até dormia ao relento.

Meu cérebro era rápido e astuto como o

Da raposa. Meu tiro era certeiro.

Nem me preocupava o tempo.

Sei que este meu estado, ora marcado

Pelas amarguras dos janeiros

Acumulados ,te negam o meu dito.

Parecem lograr meu passado

Que lhe digo e repito.

Sei que agora sou fragmento de um

Tempo que se foi. Me dói a cabeça

Agora e me vejo laçando meu boi.

Cadê meu facão ? Minha foice ?

Me u cavalo ? Meu cigarro de palha?

“ Tudo se foi-se”.

Cativo desta cama sou um espantalho

Que implora pelo fim. Eu queria gritar,

Mas não posso nem ao menos falar

Menino! Eu não nasci calado e indefeso

Assim...

Homenagem ao falecido Tio João Baiano, ou João Joaquim dos Santos.

Lindalva
Enviado por Lindalva em 10/12/2013
Reeditado em 23/06/2015
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