Lamento do Baiano
Sim... é verdade menino, também já tive
sua idade. Faz tempo... sei que o que vês
não lhe permite crer, a figura que vês
me nega em demasia.
Minhas faces eram rosadas, meus olhos
Eram brilhantes, meus cabelos mais negros
Que uma noite chuvosa e fria.
Minha vida era delirante, meus passos
Ligeiros. Eu corria, corria ao vento e
Com alegria até dormia ao relento.
Meu cérebro era rápido e astuto como o
Da raposa. Meu tiro era certeiro.
Nem me preocupava o tempo.
Sei que este meu estado, ora marcado
Pelas amarguras dos janeiros
Acumulados ,te negam o meu dito.
Parecem lograr meu passado
Que lhe digo e repito.
Sei que agora sou fragmento de um
Tempo que se foi. Me dói a cabeça
Agora e me vejo laçando meu boi.
Cadê meu facão ? Minha foice ?
Me u cavalo ? Meu cigarro de palha?
“ Tudo se foi-se”.
Cativo desta cama sou um espantalho
Que implora pelo fim. Eu queria gritar,
Mas não posso nem ao menos falar
Menino! Eu não nasci calado e indefeso
Assim...
Homenagem ao falecido Tio João Baiano, ou João Joaquim dos Santos.