Salete
Menina que também era levada,
Levou muitas palmadas.
Por falta de sorte,
Teve um acidente doméstico
Num lugar sem médico;
Ela sobreviveu e viveu
Como criança inocente.
Teve doença na mente.
Seus cabelos negros,
Sempre bem cuidados
Seus lábios sempre sorridentes.
Não se casou,
Ficou para titia
E seus sobrinhos embalou no colo
No seu colo de tia.
Quando resolvia,
Atrás da porta se escondia;
Pegava o sobrinho que passava;
Lhe fazia tantas cócegas
Até que o sol se escondia.
A gente corria dela;
Que tinha alma de criança.
Suas brincadeiras alegres;
Por toda minha vida vou
Levar na lembrança.
A primeira filha do casal;
De quinze filhos que nasceu,
Salete não saía do quintal.
Sem sua mãe Nina;
Salete se sentia
Como um verso sem rima,
Uma pipa que não empina,
Junho sem festa junina.
Tristeza que não termina;
É muito triste ver Salete;
Longe de sua mãe Nina.
Vendo a sobrinha mais nova
Com seu lindo corpinho;
Salete foi logo dizendo:
“Também já fui um chopinho.”
A morte em seu tempo veio
E levou Nina.
Salete não entendeu
Que tudo que aqui existe
Chegou um dia e um dia termina.
A morte é cruel, é malvada.
Separou as duas meninas.
Não demorou muito
E levou Salete,
A primeira filha de Nina.
Na vida, não importa qual é a dança.
Quando chega a hora,
a morte;
Sua flecha lança .
Não perdoa ninguém,
Nem Salete, que viveu
E morreu com a alma
De criança.
Logo que o anjo a levou;
Quase ninguém trabalhou ;
Pois chovia de montão.
São Pedro não sabia
Como era Salete;
Que o pegou desprevenido
E quase o matou de cócegas,
Atrás do grande portão.
Foi um barulhão de risadas no céu.
Foi preciso convocar os anjos
São Gabriel e São Rafael;
Para as coisas endireitar no céu.
Só endireitou mesmo
Quando chegou Nina.
E o Pai Eterno falou :
_Nem no céu se separa
Essas meninas.
Uma com cento e vinte anos,
A outra com oitenta e cinco.
Com alma de crianças viveram
E na eternidade continuam
É coisa que já pressinto.