Grão de amor

És só um pedaço de vida, semente escondida

No solo úmido do amor, que turgor

Es fonte de vida, mulher,

Sumo potencial, embrião guardado

Com água germinas, verde fica,

Teus olhos, esmeraldas, cintilam

O verde aparece, folhas da esperança,

Entornas o maior amor do mundo

Sois erva, daninha, danificada

Pisoteada, pelo homem, jardineiro

Tens dedo verde Deus, deu origem a mulher,

Mãe, fonte de esperança

Começas a ramar, teus cabelos, loiros,

Reluzentes, fotossíntese da vida, querida, mulher

Aos poucos aumenta, vira adolescente,

Jovem, lanças teu brilho aos jardineiros

Pomposa, começas a amadurecer,

Do cerne da vida, tens pouco, que louco

Os ramos param de crescer,

Es alta, adulta, florida

As primaveras se passam, as flores caem,

Os louros de tua aurora, simplória

Sinto o verão chegar, rego mais,

Amor demais, flores frondosas

Abelhas te perseguem, venenos te lançam,

E tu continuas, inabalável

Tuas pétalas revelam tua sina,

Espinhosa e sempre, branca, alvinha

O jardineiro tira um pouco de ti,

Tuas flores, provas de amores, ramalhetes

Sinto o verão chegar, novamente,

Frutos tu entregas ao mundo, indeiscente

Oh! cajueiro meu, frutos lindos,

Amarelos, auríferos, loiros, teus filhos

Tua pura seiva alimenta, acalenta,

Circula, bruta seiva, os sustenta

Aos poucos eles crescem, remexem

Imploram, caem de ti, se soltam

A primavera chega, tu choras, imploras,

Caem teus cordões dourados, a idade, pesados

Um silvo prata parece te consumir,

E a peste, a trepadeira, a parasita

Sugam um pouco mais, o jardineiro te escanteia,

Sinto-te velha, delgada, não mais faceira

Morres aos poucos, tiram-te pedaços maiores,

Agora tens bagagem, cerne robusto

A vida se esvai de ti, mas tua utilidade não morre,

Teus cajus andam por aí, tua prole

Belas árvores de porcelana, que enganam até o desengano

Dando origem a novos ramos, ramalhetes, grama

E tu mãe, cajueiro mor, hoje morres como mesa de botequim

Gabriel Amorim 26/05/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/

Gabriel Melo Amorim
Enviado por Gabriel Melo Amorim em 03/10/2013
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