Inspiração
Pois. O prazo incumprido,
o desalento de quem espera,
o amor é comprido
mas a cabeça não se esmera
A inspiração não desce
dos neurónios à ponta dos dedos
por aí aos trambolhões
e o segredo - se há segredos -
é abrir o portal da memória
e deixar fluir em glória
a torrente de recordações
Uma vida em cantata
onde até do sofrimento
se faz hoje serenata,
o resto é dar livre curso
à criança sexagenária
que aos rebolões com as netas
vive uma estória imaginária
a gargalhada e o disparate
tomam conta do adulto
quem tempera é a avó
que vê o templo desse culto
ameaçado de destruição.
No final, nada a temer,
à parte uma loiça a tremer,
uns a rir, outros no chão.
Minha filha, Maria De Lurdes Simões Correia