O ciclo humano
A essência do “eu” adapta-se as mais variadas realidades:
A realidade da chuva, a realidade do sol
A realidade da vida, a realidade da morte
Seja um pássaro que está aprendendo a voar
Seja um humano que está aprendendo a caminhar
A essência, representada aqui como uma energia,
Dá-nos uma idéia da dimensão simbólica do sujeito
Que tipo de sujeito nós aprendemos a ser?
Aquele que bate ou aquele que auxilia
Aquele que explora ou aquele que socializa
Então a ruptura inevitável do “eu” acontece
No momento mais lastimável, angustiante,
Quando temos a inteligência dos sábios
E o corpo exausto, cheio de marcas e feridas,
Basta para nós arrependermo-nos dos pecados?
Não creio. Eu pequei e continuarei a pecar...
Então a felicidade aparece ao lado da mesa
Na hora do jantar e nos chama de pai ou mãe
Como era simples! E nem podíamos imaginar.
Outros desafios, outras instâncias, outros ares,
O brilho nos olhos de alguém que viveu oito décadas
Parece a comprovação de que existe um algo mais
Desaparece o supérfluo, aparece a pequena mão de um bebê
Eras pai, agora és avô, fostes algoz, agora serás pastor,
Cuidasses dos teus filhos e agora eles cuidarão de ti.
O ciclo humano, que às vezes é interrompido,
Admite um ar leve, de missão cumprida,
Quando deitamos, à noite, na cama e pensamos:
Eu vivi! Eu amei! Eu eduquei! Eu morri!
Assim os dias se foram
E outros chegaram para ocupar meu lugar
Como uma espécie de regra universal
Cumpriu-se o destino de todos
E os papéis, antes avulsos, tiveram agora,
Pela primeira vez, a certeza dos seus intérpretes.