Meu querido pai

Meu querido pai

diz gostar tanto de mim,

mas faz da minha vida

um tormento sem fim.

Vive a me chamar

de sapo, macaco e urubu.

Não satisfeito, ainda gargalha,

cantando, que eu pareço um brucutu.

Por mais que eu faça,

nunca fica satisfeito.

Investiga todos os meus atos

à procura de um defeito.

Ao menor erro, eu sou

burra, incapaz, retardada e imbecil.

Idiota, lerda e pamonha?

Sou tudo isso e bem mais.

Eu não sou para casar,

mas para ser a mana velha,

cuidar da casa e dos irmãos,

sendo chamada de tia velha.

Sou a que ninguém respeita,

a que não merece atenção,

mas que nasceu para peniqueira

e ser humilhada pelos irmãos.

Se me xingam e humilham,

é comigo que ele briga,

gritando que sou louca,

jumenta e bobalhona.

Despreza meus poemas,

chamando-os de lixo,

quando comigo se zanga,

é um lamento infindo, porque

sou uma decepção, um fracasso

e um desgosto.

Mas, querido pai, escute

bem o que sai de dentro

do meu coração:

um dia, irei embora e,

adeus desolação.

Nunca mais passarei os

meus dias com medo de

lhe desagradar,

perguntando quando irá

acabar o meu penar!