SEM RIMA 266.- ... poesia familiar ...
Na verdade, deveras, na realidade...
realmente (quase) toda a poesia
que (quase) qualquer poeta
diz a conversar, a soliloquiar, a escrever
(toda a escrita abraça diálogo diferido...),
toda,
resume-se na camada familiar,
em cujo seio a pessoa que liriza descobre
os seus sentimentos e mais o ambiente doméstico:
ainda que não o procure,
ainda que não o reconheça.
Contudo, a pessoa que lê,
em regra, ignora, não alcança
a conhecer nem sentimentos nem ambiente
que o escritor percorreu e padeceu: ou se souber
deles, apenas será saber e sabor superficiais, inexatos.
Por consequência, deve de afirmar-se
com maior força que é o leitor quem patenteia
ambiente e sentimentos, ao longo da sua leitura, e não
o escritor, que as mais das vezes se oferece como mistério
inexequível...