Meu pai.
Meu pai montava a cavalo, não ia a galope.
Seguia tranquilamente pela estrada afora.
Não tinha bois nem terras a se perder de vista,
Apenas tinha sua força de trabalho a oferecer
Aliada à sua vontade de sobreviver e vencer.
Estrada era longa, seus sonhos eram poucos,
A terra, a enxada e algumas sementes.
Mas sabia os segredos da terra e das chuvas.
Pois cada semente era uma benção divina.
Todo mês de março a novena de São José.
Tempo de plantar, aipim, milho e amendoim,
Para no mês de Junho garantir a produção,
Que faz a fartura nas festas de São João.
No dia 19 de Março, nuvens escuras no céu,
Medo e esperanças na enchente de São José.
Era a chuva derradeira naquela sua região,
Milagres vêm com todas as águas de março.
Quando chega Junho o milagre era presente
Afagava a terra, sentia prazer nas mãos.
Amendoim firme que torrado agradava.
Na farinha e na canjica o sabor apurava.
Maior alegria era poder pousar seus olhos,
Sobre os pés de milho com cabelos vermelhos,
Milho assado uma delicia ou macio natural,
Para o quente mingau a comer pelas beiras.
Como grande sabedoria da gente mineira.
Toninho
Relendo a poesia "Infância" de Carlos Drummond de Andrade que completaria 110 anos em Outubro e que esta sendo homenageado na FLIP.