Meu pai.

Meu pai montava a cavalo, não ia a galope.

Seguia tranquilamente pela estrada afora.

Não tinha bois nem terras a se perder de vista,

Apenas tinha sua força de trabalho a oferecer

Aliada à sua vontade de sobreviver e vencer.

Estrada era longa, seus sonhos eram poucos,

A terra, a enxada e algumas sementes.

Mas sabia os segredos da terra e das chuvas.

Pois cada semente era uma benção divina.

Todo mês de março a novena de São José.

Tempo de plantar, aipim, milho e amendoim,

Para no mês de Junho garantir a produção,

Que faz a fartura nas festas de São João.

No dia 19 de Março, nuvens escuras no céu,

Medo e esperanças na enchente de São José.

Era a chuva derradeira naquela sua região,

Milagres vêm com todas as águas de março.

Quando chega Junho o milagre era presente

Afagava a terra, sentia prazer nas mãos.

Amendoim firme que torrado agradava.

Na farinha e na canjica o sabor apurava.

Maior alegria era poder pousar seus olhos,

Sobre os pés de milho com cabelos vermelhos,

Milho assado uma delicia ou macio natural,

Para o quente mingau a comer pelas beiras.

Como grande sabedoria da gente mineira.

Toninho

Relendo a poesia "Infância" de Carlos Drummond de Andrade que completaria 110 anos em Outubro e que esta sendo homenageado na FLIP.

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 08/07/2012
Código do texto: T3767423
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.