O SOLDADINHO AMARELO

Na infância brincava eu com um soldadinho amarelo

Era de plástico e tinha um dos braços com mãos bem abertas

Que dava para socar os oponentes com facilidade

Neste meu mundo imaginário fazia eu o meu castelo

Brincava eu num forte apache das horas incertas

Era um mundo sem tempo um grande imaginário

Uma espécie de livro aberto

Na verdade um diário

Ali naquele pequeno pedaço de chão

Eu montava o lindo cenário

E depois o destruía por falta de opção

Já que o meu soldadinho amarelo não morria

Dando voo ao amarelo peitoril do canário

Voava eu nas peças montadas como cartas de alforria

Eram enfeitadas como bolo de aniversário

Que mundo era este sem games eletrônicos

Sem celular com serenatas ao luar mais tudo era tão peculiar

Como o almoço que papai aos berros gritava

Como comandante do “quarter generar”

Sua pasta Presidente descansando sob o sofá

Onde todos se reuniam

Na mesa de almoço o fumegar

Sem regime militar

Não havia maior troféu

Que a reunião dos irmanados familiares

A comida quentinha o aconchego uma cópia do céu

Engraçado que nunca sentíamos falta das coisas de hoje

Tudo era mais simples e menos descartável

Fraldas eram de pano de algodão

As crianças como eu nasciam pelas mãos das parteiras

E as pessoas cuidavam mais uns dos outros

Com açúcar e com afeto

E acreditávamos piamente em primeiro de abril

Hoje tá tudo virtualmente menos pueril e mais aberto

Mais as pessoas em si estão mais fechadas decerto

Sem o sono dos inocentes sem os sonhos de anil

Estão ensimesmadas virtualmente em constante solidão

Blindadas manipuladas plasmadas sem tempo e plastificadas

Como o meu soldadinho amarelo

Presas por suas próprias mãos...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 21/05/2012
Reeditado em 21/05/2012
Código do texto: T3680307