O SOLDADINHO AMARELO
Na infância brincava eu com um soldadinho amarelo
Era de plástico e tinha um dos braços com mãos bem abertas
Que dava para socar os oponentes com facilidade
Neste meu mundo imaginário fazia eu o meu castelo
Brincava eu num forte apache das horas incertas
Era um mundo sem tempo um grande imaginário
Uma espécie de livro aberto
Na verdade um diário
Ali naquele pequeno pedaço de chão
Eu montava o lindo cenário
E depois o destruía por falta de opção
Já que o meu soldadinho amarelo não morria
Dando voo ao amarelo peitoril do canário
Voava eu nas peças montadas como cartas de alforria
Eram enfeitadas como bolo de aniversário
Que mundo era este sem games eletrônicos
Sem celular com serenatas ao luar mais tudo era tão peculiar
Como o almoço que papai aos berros gritava
Como comandante do “quarter generar”
Sua pasta Presidente descansando sob o sofá
Onde todos se reuniam
Na mesa de almoço o fumegar
Sem regime militar
Não havia maior troféu
Que a reunião dos irmanados familiares
A comida quentinha o aconchego uma cópia do céu
Engraçado que nunca sentíamos falta das coisas de hoje
Tudo era mais simples e menos descartável
Fraldas eram de pano de algodão
As crianças como eu nasciam pelas mãos das parteiras
E as pessoas cuidavam mais uns dos outros
Com açúcar e com afeto
E acreditávamos piamente em primeiro de abril
Hoje tá tudo virtualmente menos pueril e mais aberto
Mais as pessoas em si estão mais fechadas decerto
Sem o sono dos inocentes sem os sonhos de anil
Estão ensimesmadas virtualmente em constante solidão
Blindadas manipuladas plasmadas sem tempo e plastificadas
Como o meu soldadinho amarelo
Presas por suas próprias mãos...