Fecundação

Longos, são os quinze centímetros de caminho

percorridos paulatinamente

por mais de duzentos milhões

de espermatozóides;

eles gastam três minutos pra cruzarem

apenas um milímetro,

(cerca de oito quilômetros para nós), e cinco

a sete horas para chegarem ao objetivo, as trompas.

Seguem atraídos pelo muco alcalino,

e o maior desejo deles é nascer,

pois acreditam que adiante

existe vida.

O óvulo, além de pequeno,

está bem oculto na cordilheira de Falópio

e o caminho é tortuoso,

difícil e cheio de quimeras.

Quando se encontram,

unem-se e se abraçam.

Fecha-se, o óvulo, em milionésimos de segundos

e inicia-se a fecundação, um novo ciclo:

não se lembrará

de sua vida anterior de esperma,

nem agora saberá

que é um zigoto;

nem entenderá

como e por que foi o único que nasceu

entre os duzentos milhões

de espermatozóides de seu lugarejo.

Não saberá

nem se morreu ou se nasceu de novo,

nem nos bilhões de genes

caracteres que transporta,

nem acreditaria em nós,

se lhes disséssemos,

Não acreditaria

que há bilhões de trompas e de mães,

quanto mais na Terra, no sistema solar, na Via Láctea,

nos bilhões de galáxias do Universo. Não acreditaria!

Não entenderia por que os homens correm tanto

atraídos por dinheiro e por poder,

e desperdiçam tanto tempo

sem viver a vida.

Saberia que a felicidade não é rara,

porque mora no cume de nossas montanhas

e que é possível encontrá-la, embora o caminho

seja tortuoso, difícil e cheio de quimeras.

Não entenderia

a violência, o assassinato,

a indecência, os vícios,

a inimizade, a traição.

Não entenderia o homem, nem as civilizações.

Só entederia as mães,

e a saudadosa vontade

de ficar com elas.