BERÇOS DE AÇO

BERÇOS DE AÇO I (18/12/11)

Teus pais te deram a vida e, às vezes, te criaram;

a maioria o faz ou, ao menos, com dinheiro

contribuem, para pagar os cuidados de um terceiro;

na sua maioria, eles também te amaram...

Nem cabe a ti julgar por que te abandonaram:

tiveram suas razões. No mundo corriqueiro,

tão só sobreviver já é fato alvissareiro,

pois tantos há que cedo à margem já ficaram...

Portanto, que és feliz depressa considera

se cuidaram de ti, por mais ignorância

em tua educação, os seus castigos cobram.

Que em cada pai severo um bom avô espera:

confia-lhe teus filhos e esquece a própria infância,

pois mostrarão carinho nas horas que lhes sobram.

BERÇOS DE AÇO II

Infelizmente os pais demonstram a tendência

de nunca se lembrar que os filhos são adultos

e mesmo assim repreendem, até quando os insultos

os levam muitas vezes às raias da impaciência;

ou se põem a declarar que têm mais experiência

e desse modo sabem, até os mais incultos,

o que devem fazer. Concede-lhes indultos:

na verdade o que a vida lhes deu foi impotência.

É muito raro aquele que aprende com os anos;

o que as pessoas tendem é continuar iguais,

fazendo os mesmos erros, só repetindo mais

o que já lhes causou de sobra desenganos;

é muito raro aquele que a vida modifica:

na maioria somente o tédio frutifica!...

BERÇOS DE AÇO III

Mas isso não importa, no caso de teus pais:

merecem mesmo é pena, se não aprenderam nada

e nem sequer conseguem, nesse final de estrada,

perceber que deveriam modificar-se mais,

pois são iguais aos outros. A maioria jamais

aprende com a experiência e vê desperdiçada

a existência inteira, a vida desgastada

em comer e dormir e em disputas com os demais.

Os teus não são piores, pois são apenas tolos,

portanto, cabe a ti com eles ter paciência,

escutar o que dizem, ouvir a sua pendência;

mas deixa que teus filhos coloquem em seus colos:

que lhes deem mais carinho do que te deram berros,

para que tenhas tempo de errar teus próprios erros.

BERÇOS DE AÇO IV

Essa história dos pais já se virou em piada:

se põem a proferir o mesmo ramerrão,

quais se fossem cartuns a repetir bordão,

na revista em quadrinhos temática esperada.

Pois vou dizer o meu e depois, sacar da espada

e cortar estes versos sem mais ostentação,

a ideia está esgotada, chegou a mutação,

retorno para o céu, em busca da alvorada...

Meus pais já faleceram, ficaram para trás;

o berço está em mim, não esquecerei jamais

os seus ensinos de aço e quanto machucaram.

E como foi difícil de tantas lições más

tirar as verdadeiras, soltar-me desse cais

e abandonar o porto em que tanto me ancoraram!

William Lagos
Enviado por William Lagos em 20/03/2012
Código do texto: T3564772
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.