EU E MEU PAI
GILBERTO BRAZ ALMEIDA
Meu pai, meu pai.
Quantas recordações
acumularam-se em minha cabeça!
Éramos como duas crianças felizes
pelos caminhos orvalhados da roça.
Tu ias à frente
e eu atrás.
Tu abrias as porteiras
de arame farpado
e juntos passávamos
como dois andarilhos...
Meu pai, meu pai.
Era mais um dia de trabalho,
os nossos corpos cansados,
as nossas calças enegrecidas de picão,
como fadigavam as nossas pernas!...
Retornávamos a casa ao entardecer.
Tu carregavas um pau de lenha
sobre os ombros
e eu um saco de milho as costas.
A cada passo que andávamos
a carga ficava mais pesada.
Ainda bem meu pai que as sombras
de frondosas mangueiras descansávamos!...
Meu pai, meu pai.
Sob a luz da lamparina
eu era saciado
pelas histórias de tua vida.
Meu pai, meu pai.
Um novo dia amanhecia
e lá retornávamos nos
pelos caminhos
abençoados da roça...
Que saudade meu pai
do cafezal florido,
do milharal embonecado,
do arrozal cacheado,
dos pés de laranja lima,
do ranchinho de sapé,
da mina d’água lá no grotão,
daquela enorme figueira
onde os pássaros cantavam...
Cantavam meu pai.
Hoje não cantam mais.
Meu pai, meu pai.
Lá bem distante
onde era o nosso roçado,
ainda se planta saudade.