SALA VAZIA

Lembro-me bem e saudosamente

a sala repleta de contentamento,

os sofás velhos e aconchegantes,

as palavras aos gritos sussurradas.

Não consigo esquecê-los jamais,

falam-me à alma a todo instante.

Os risos soltos, lágrimas comovidas,

os passos no assoalho encerado.

Sons da rua, janela entreaberta

à brisa visitante da noite serena,

e o ranger da porta a fechar-se

indiscretamente, ao vento chuva.

Ainda ouço o varrer arrepiante,

do pó vermelho que a rua trouxe

aos pés dos que não dormem e

chegam tarde, ao amanhecer.

A sala hoje está vazia, triste...

mas ainda escuto teu cantar

latejando em minha memória

como um sino distante a soar.