FACA AFIADA
No meu quarto, sozinha, meditando...
tiro uma teia, arrumo, aspiro pó;
enquanto na vidraça embaciando,
faço versos à vida e sinto dó.
Dó por este meu corpo, sem carinho,
que murcha como planta sequiosa.
Seca, dia a dia, devagarinho,
enquanto abelha sou, laboriosa.
Protegi o meu lar, enquanto pude,
já fui abelha mestra, sem rival.
Por conviver com gente um tanto rude,
ergui muros de pedra, dei-lhes cal.
Sou faca afiada, viro o gume
para quem, hoje, quer fazer-me mal.