À família
A casa estava, sempre,
Repleta de ilusões...
Era como se fosse noite de natal,
Quase todos os dias...
O almoço parecia ceia.
Todo mundo comia na hora certa
E a mesa era farta, grande e bonita.
Não era casa,
Era um apartamento em Copacabana,
Perto do mar...
Para um ouvido aguçado,
Quem sabe ouvisse o barulho das ondas,
Se contorcendo na areia!
O teto azul,
Lembrava aquelas casas colonias de antigamente
E os espelhos, na parede, davam amplitude...
Como havia risos, naquela casa...
Não me lembro de tristeza localizada.
A televisão sempre ligada,
Ao som de imensas gargalhadas...
A figura magra de minha mãe: Autoritária, mas mãe!
A enigmática sombra de minha irmã Alice, mas irmã!
A sintomática, carismática, enigmática,
Presença do meu irmão Raimundo,
Eram as pessoas cativas, da minha casa.
Lá, a gente plantava sonhos e os colhia...
Parecia um grande quintal,
Cheio de orquídeas, a minha casa...
Não é possível, agora, contar
Os amigos que chegavam para o almoço,
Mas a panela era, suficientemente grande para todos...
Minha mãe gostava de ouvir os elogios de grande cozinheira.
Agora,
Meu irmão é morto, o Ray...
Mas a casa não perdeu totalmente a sua alegria:
Vieram sobrinhos, netos, bisnetos
E a família cresceu tanto
Que não dá para colocá-la toda, em um retrato.
O teto não é mais azul; agora é branco
E são as crianças, com sorrisos enormes e inocentes
Que fazem brincadeiras,
Como se estivessem em um grande quintal.
Mas estão na minha casa.
Minha mãe, figura magra e ainda autoritária,
Comanda tudo... dá as ordens, a hora do almoço e banho,
Brinca com fogos de São João, como uma criança.
Acho que minha amada mãe nunca cresceu.
É dona de eterna juventude.
A família.
Como é bom estar no seio da família,
Nem que seja aos domingos!
Hoje teve feijoada e aquela mesa farta.
Minha mãe, figura magra e autoritária, ainda comanda tudo...
Minha irmã Alice não apareceu, anda meio afastada...
Mas a minha irmã Míriam estava lá; só que agora é Vó Mira,
A "vó" que Deus inventou para cuidar dos netos.
Nunca conheci Vó igual. Tanto amor, em uma só pessoa...
Até meu pai, afastado de nós mais de trinta anos,
Também estava lá.
Quase todos em volta da mesa,
Cada um no seu lugar...
Tivemos que revesar
Porque agora a mesa não dá para todos.
Eu me sentei e olhei para o teto que não é mais azul
E senti saudades...
Me lembrava céu enluarado e quintal.
As crianças brincavam, choravam e sorriam,
Faziam coisas que só as crianças fazem
E acho que gente grande não entende
Porque se irrita...
Foram quase todos ao cinema
E eu voltei para minha casa
Que não é mais aquela de teto azul!
Dos meus vinte e poucos anos e dos amigos que não vejo mais.
Eu não tive filhos.
Adotei um cachorro como tal.
É uma cadelinha e me dá tanto carinho
Que me emociona...
Acho que o "hobby" do meu irmão Geraldo
Deve ser o casamento,
Ao contrario do meu
E de mim, que gosto mesmo de acarinhar cachorro,
Fazer poemas
E lembrar,
Sempre, sempre,
Do meu grande amigo Ademar
E do meu irmão Ray,
Que se foram ao encontro de Deus...
Meu Deus! que saudades dos meus mortos...