Natal
I
É o meu último dia,
Quem dera não saber disto,
Pois não beijei minha mamãe.
É tarde para dizer que a amo.
Papai, nem te agradecí
Por toda a sabedoria que me deste.
Como um cego, fiz a mesma coisa,
Todo o dia a mesma coisa,
Pegava a bicicleta e ía para a Escola.
Mas quem advinharia?
No lugar de uma nota dez,
Dez levei no peito.
Eu nem ví nada,
A única coisa que ví
Foi o povo correndo.
Tudo rápido,
Eu nem conhecia ele,
Mas sentava ao meu lado na sala.
Será que ele precisava de amor?
Será que ele se esqueceu?
Será que ele se perdeu?
Será que ele precisava de um abraço?
II
E Amélia que tinha doze anos!
Tinha a vida inteira,
Podia ser alguém na vida.
Mas ta aí, ouvindo os papos dos garotos
Toda orgulhosa,
Sem um pingo de respeito.
O amor estáva no lugar errado.
Mesmos encontros,
Rostos diferentes.
Ela mudou quando o pai se foi.
É uma pena, ele não disse:
"Você merecia algo melhor".
III
João, o idiota.
Desobedecia os pais
Para agradar os "amigos".
Sempre excluído,
Por mais que se enturmasse.
Sempre pensava em se matar.
Sem amigos, não há vida.
Talves morrendo
Alguém lembre dele.
Cruzando a linha, não há mais volta.
Disse ao mundo inteiro como se sentia
Com o som de uma arma.
IV
Quem é o culpado?
Diga o que quiser,
Isso não alivia!
Estou cansado.
Ninguém tem uma resposta?
É cego guiando cego?
É assim que a vida toca.
Será que um dia fará sentido?
Alguém, um dia, terá que saber.
Vida, tu és mais do que isto?
Deve haver algo mais
Do que as mesmas coisas que eu já ví.