Daniel e Isabel
Que dor sinto em meu corpo!
Parece que firo, que alguma coisa vai se rebentar.
Será que voz velada em meu ventre quer se entregar?
Não sei, não sei mesmo, porque meu ventre é virgem, insano.
Claro, nenhuma floresta sem árvore é floresta, não pode ser floresta.
Que dia? Que dia? Não houve dia. Não gerei filho que sonhei.
Agora as horas já se fazem adormecidas, estéreis, e ninguém é o nome do filho que não vem.
Poderia chamar-se Daniel, fiel aos meus prantos e amigo de minhas alegrias.
Poderia chamar-se Isabel, melzinho a arrombar prêmios, milênios.
Seriam lindos, para mim seriam sempre pequeninos.
Mas, eu os daria ao mundo.
Nem a mim eu sei que tenho.
Então eles iriam às praças descobrir liberdades.
Que esse poema não me cause a dor do parto.
Porque filhos no universo eu não coloquei.