RÉQUIEM A MEU PAI
Papai, hoje é o seu dia! O dia dos pais!
Como sinto a sua falta!
Fecho os olhos e vejo você ao meu lado,
Falando das coisas da vida.
As nesgas do sol poente,
Parecem trazer-me, por acalanto,
Os seus recados, a sua presença junto a mim.
Que saudade do nosso convívio,
Da nossa alegria...
Quantas brincadeiras,
Quantas risadas nós dávamos juntos!
E a vida era bela, bela vida!
Lembro-me de você, papai,
Ao meu lado no leito de hospital,
Quando a vida achou por bem me tolher os passos.
Sofregamente, você me afagava os cabelos.
Austero e forte, você fora sempre.
Mas, naquele dia,
Acabrunhado e humilde ao meu lado,
Você sofria!
Como gostaria de ter-lhe evitado tamanha dor!
Depois,
Uma nuvem de tristeza cobriu o nosso lar,
A nossa vida, a sua vida, papai!
Passei a vê-lo cabisbaixo de barba grande...
Logo você que era tão vaidoso.
Eu sabia que você sofria.
É, papai, quanta tristeza eu lhe dei!
Hoje, volto ao passado e vejo que,
Mesmo sem andar, eu caminhei muito!
Tenho os pés cansados da jornada,
Feridos pelas pedras do caminho.
Preciso de um colo para descansar,
Preciso de um ombro para chorar.
Eu tentei caminhar...
Tento, ainda, com “unhas e dentes”.
Insisto sempre!
Recomeço a cada tombo,
A cada caminho truncado.
Se não marco passadas no chão,
Marco-as no coração,
Em trabalho, amor, poesia...
Você foi um motivo para o meu desafio.
Como queria entregar-lhe o troféu do meu esforço!
Mas você foi embora, numa noite fria, sem dizer adeus.
Queria que estivesse aqui para ver os meus rastros
Deixados na estrada da vida.
Papai, que saudade!
Mas que saudade, mesmo!
Receba, neste dia,
O preito de minha gratidão,
Do meu afeto, do meu carinho,
Da minha saudade!