DIA DOS PAIS & MAIS
DIA DOS PAIS
REGRAS DA VIDA LXIX (2008)
Ninguém jamais a alguém ensinou nada:
cada um aprende apenas o que quer.
A vida é longa, mas não é qualquer
que aprende com a experiência vivenciada.
A maioria deixa a vida esperdiçada
e nada aprende, homem ou mulher.
Repetem os mesmos erros, sem sequer
acompanhar quem segue a mesma estrada.
Assim, é mais que inútil se esforçar
para passar aos filhos a experiência
que se julga ter ganho nesta vida...
Bem ao contrário, deve-se deixar
que errem sozinhos, na maior paciência,
esperando que a lição seja aprendida!...
REGRAS DA VIDA LXX
Do mesmo modo, não foram nossos pais
que nos passaram quanto compreendemos.
Eles erraram também e assim sofremos
por esse bem desejado, que jamais
conseguiram transmitir, isso por mais
que se esforçassem. De fato, sempre vemos
para os outros o melhor. E empreendemos
aconselhá-los, com frases imortais,
para que façam o que nós nunca fizemos...
Foi assim com os pais que nos criaram:
tentaram evitar, mal orientados,
que vivêssemos a vida que vivemos
e na busca de ajudar, só atrapalharam,
sem que por nós jamais fossem perdoados.
RAIO DE LUZ I (2008)
Bela e radiosa qual estrela bela,
tal como o Sol seu rosto fulgurava
a se irradiar brilhante como estrela,
por ser amada, seu rosto iluminava.
Tive certeza que grávida se achava:
rara a mulher que tem beleza tão singela
por todo o tempo que ao espelho se mostrava
do que quando aceitou, no interior dela,
essas sementes brancas de algodão
que o óvulo escolheu, feito botão,
manifestando assim a nova vida.
E por isso fulgurava a bela estranha,
mal percebendo o quanto era tamanha
essa beleza de que estava revestida.
RAIO DE LUZ II (12 ago 11)
Naturalmente, sei que é uma armadilha,
criada pela ação da Natureza
para o homem prender, com mais certeza,
junto da grávida que a proteger perfilha.
Mas, no entretanto, a força dessa trilha
poderia demarcar vasta vileza:
não seria necessária mais beleza,
só feromones que abrangem até milha,
tais quais prendem os mamíferos entre si.
Ou códigos de cores e grasnidos,
como existem tanta vez permeio às aves.
Ou destinos bem piores que já vi,
qual entre louva-a-deuses e aracnídeos,
que devoram os machos sem entraves!
RAIO DE LUZ III
Não assim entre nós. Graciosamente,
é a mulher que se faz ainda mais bela,
enquanto enfrenta da gravidez procela
e mais precisa mostrar ser atraente.
E que seu ventre visite ainda frequente
o homem que pretende seja dela.
É armadilha, porém a mais singela:
gotas de amor pingando simplesmente.
Enquanto brinca faltar ainda um pezinho
para fazer, desse nenê que espera,
por mais que saibam ser um despautério,
fazendo amor gentil, devagarinho,
sem a paixão violenta de outra esfera,
a proteger um sonho ainda mais sério.
RAIO DE LUZ IV
Eu já passei por isso várias vezes;
sei muito bem o preço da atração,
após ser bela durante essa estação,
desmazela-se, afinal, por alguns meses...
Mas nem sequer se tem nojo dessas fezes
que elimina o nenê em proteção.
É mais um tempo até de exultação,
em que o lazer de boa vontade leses.
Pelo pequeno milagre nos teus braços,
tão comum, porém tão inesperado,
representando tua continuação.
O resultado final de teus abraços,
inerme e poderoso em seu agrado:
raio de luz de tão curta duração!...
ROSÁCEA
Muito longe de ti me quedarei,
Sozinho sempre e sem lembrar saudade,
Até que, suavemente, a mocidade
Se escoe, como o vinho que tomei...
Mas tão perto de ti sempre estarei,
Que a ti meu ser inteiro está ligado,
No rosicler amargo experimentado
Em roçagar de pálpebras que amei...
Que distância e presença são quimeras,
Que à própria contradita se antepõem,
No mar da ausência azul tantas galeras,
Quantos remos os dias nos propõem;
E, se em memória apenas consideras,
Os dias passados juntos nos repõem...
REMORSO
Escusa de acusar-me, fugidia,
Imagem luminosa de [tres]noites,
Na boca amarga o gosto dos açoites,
Da boca que beijei em salmodia.
Escusa de culpar-me em pensamento
Ou às claras mesmo, em gesto decidido,
Julgar que me tornei envaidecido
Ou por orgulho desprezo teu lamento.
Porque minha parte fiz -- e mais que ela!
Teu chamado escutei e, sem cautela,
Lancei-me aos braços frios que me estendias.
Não te podes queixar-- nos separaram
Os ventos mesmos que breve nos juntaram,
Se amor foi mesmo o que por mim sentias...
amor integral (28 jun 11)
meu organismo inteiro em ti se envolve,
não apenas do sexo as esguias
ânsias diretas, escorrendo como enguias,
em que o lúbrico apenas se dissolve,
nem tão somente o sonho que revolve
de mil poetas em ternas elegias,
da mente e coração nas fantasias
e restrito a tais órgãos se resolve;
o meu amor, porém, me complementa
a carne, o sangue e até o suor e afins,
meu corpo inteiro envenenado em ilusões,
enquanto a urina escorre, violenta,
sangue amarelo a jorrar desde meus rins,
filtrando lentamente minhas paixões!...
PARQUE DE DIVERSÕES I (2008)
Montanha russa foi minha vida toda:
altos e baixos, sempre inesperados...
Os outros a meu lado, apavorados
e eu só pensando em como a vida engoda.
Altos e baixos, sem completar a roda
da sansara sem fim, corpos usados
por décadas apenas e então lançados
de volta à terra... ou nessa tola moda
de engavetar os restos, circo inútil:
festins e funerais, quanta sandice!
Se apenas giram sempre iguais esferas...
De há muito já rachada a vida fútil,
girando sem parar, pura tolice,
no carrossel das mais breves esperas...
PARQUE DE DIVERSÕES II (29 JUN 11)
Ou talvez tenha sido outro brinquedo:
um barco, seja viking ou pirata
ou uma roda gigante em que se abata
toda a coragem esfumada pelo medo
de uma simples brincadeira sem segredo,
já controlados, desde longa data,
velocidade e o vento que se esbata,
contra meu rosto qual gélido dedo.
Há muitas variações da fantasia
dos giroscópios de toda a sociedade:
nada mais são do que alienações,
que para mim não têm qualquer valia,
sem me causar qualquer felicidade
e muito menos propiciar satisfações.
PARQUE DE DIVERSÕES III
É preciso lembrar que seus padrões,
tendo começo, fim terão bem certamente.
Tudo o que nasce, morre... É ter presente
que são da vida marés de imitações.
Apenas nos controlam as durações
por um espaço limitado e impermanente.
Os carrinhos se movem velozmente,
sobem e descem sem mais continuações.
E quando acaba o tempo desse mito,
surge um novo brinquedo pela frente,
que por instantes nos leva até as alturas
para depois nos rebaixar até o infinito,
por nossa vida não mais que indiferente:
jogos apenas, mas de ilusões bem duras...
PARQUE DE DIVERSÕES IV
Assim, eu não me abalo, se a maré
torna-se baixa em presentes circunstâncias
ou se faz alta em mais outras instâncias,
que um vaivém constante a vida é.
Pois muitas vezes no retêm no rodapé
e noutras nos eleva até as fragrâncias
da glória e do poder, em inconstâncias,
pois tanto faz estar no píncaro ou sopé.
As coisas mudam e quanto sobe, desce;
tudo o que desce, um dia há de subir.
Como Kipling falou, são impostoras...
Mas não se afastam por esforço ou prece,
já que somente com paciência há de luzir
nossa alforria destas duas senhoras...
PARQUE DE DIVERSÕES V
E há uma coisa mais: na baixamar
é quando os barcos o alto mar alcançam,
aproveitando que as águas mais se lançam
na direção que buscam encontrar.
Enquanto em maré alta, há que gastar
muito mais energia. E assim descansam,
até que as águas novamente avançam
e em direção ao mar alto irão zarpar.
Se tudo então te parece ser contrário,
é quando tens a real oportunidade
de para o alto mar te projetares...
Que o destino é um disfarçado perdulário:
mil portas te abre, com generosidade
e só de ti dependerá as atravessares...
PARQUE DE DIVERSÕES VI
E não te esqueças: qualquer roda gigante,
um barco viking ou mesmo um carrossel
de cavalinhos a pular sob um dossel,
só se pagares te irão levar avante...
Após comprares a entrada, num instante
a entregas a um porteiro, que ergue o anel
dessa corrente que ao futuro dá quartel:
tens a escolha do brinquedo a teu talante.
Pois pelo teu viver, és tu que pagas,
com o teu tempo, afetos, pensamentos,
com o constante palpitar do coração.
Mas vivencias até o final as sagas
que escolheste por teus consentimentos,
que a vida inteira é um parque de ilusão!