BREVÊ
Embora brancos estejam os cabelos,
Eu me vejo criança a pedir colo,
Implorar guarida.
Ainda tenho medo de ficar sozinha!
Medo da escuridão, dos barulhos da chuva, do vento
Que dedilha na vidraça...
Medo do bicho papão,
Da minha infância tão distante!
Ainda preciso que me segurem a mão.
Tenho medo de fantasmas.
E quantos fantasmas bordaram a minha vida!
A fragilidade bate-me a porta.
Toma-me a alma em desalento.
A máscara caiu, obsoleta e fria.
Já não preciso dela.
Quero o direito de ser boba, frágil, idiota...
Estou pedindo alforria.
Não quero mais ser gente grande.
As crias cresceram e partiram.
Estão seguindo as suas escolhas.
Cumpri o dever e exerci o pacto do amor,
Que impregnado, melhorou-me o ser.
Agora, eis que estou a devolver.
Afinal é a sina de todas as mães,
Pois os filhos não são nossos.
São empréstimos de Deus,
Cabendo a nós o feitio de suas asas,
E o brevê para voarem sozinhos no céu de suas vidas.