O corpo da mãe

O corpo da mãe não lhe pertence

Jorra sangue, salta leite

Seu corpo é casa roubada

Onde sua cria dorme

Estrada aberta sem porteiras

Onde as cria caminha infinitamente

A mãe não tem vergonha

Seu corpo é visto por todos

Como uma estátua disforme

Nua ela pare, nua ela alimenta

Seus seios despencam às vistas/

De todos que passam nas ruas

E de todos que andam a sua volta

Seus seios não são mais seios

Grandes, duros e doloridos caem

Direto na boca gulosa de seu filhote

Seus seios são nada mais que tetas

Tetas que amamentam

Tetas que ninam

Tetas que choram leite e sangue

De bicos cascudos, grossos e rachados

Tetas abertas

Em que seu filhote se pendura

Se pendura como broche

A mama da mama

Morde o filhote

Que mia e morde

A mama que mia

Toda mulher

Vira bicho quando gesta

Vira bicho quando pare

Vira bicho quando mãe

Toda mãe

Vira bicho quando amamenta

Seu bichinho

Vira bicho quando precisa

Defender seu bichinho

Toda mãe sabe

Que ser mulher

É ser bicho

Antes de ser gente

Com sua carne

Com seu sangue

Com seu leite

Com seu instinto

Que fareja o macho

Que fareja a cria

A mulher, a mãe

O bicho

Verifica e protege

Seu filhote, sua cria

Seu bichinho

Seus braços

Suas tetas, seu colo

Seu ventre, seu nariz

Alimenta, nina, embala

Protege e educa

O ser humano.

Adrienne Kátia Savazoni Morelato
Enviado por Adrienne Kátia Savazoni Morelato em 10/06/2011
Código do texto: T3025159