ABORTO
No útero de minha mãe começou nosso embate.
Ela queria expelir-me e eu queria ficar.
Venci o combate.
Permaneci até que a Mãe Natureza me disse:
-É hora de ver o mundo.
Saí vitorioso.
Vivi ao lado de minha geradora.
Mãe.
E nunca nos entendemos muito bem.
Ela queria que eu fosse personagem procusto*
e eu querendo interpretar a língua dos anjos.
Ela duvidando e eu acertando.
A Mãe Natureza sempre ajeitando o caminho
e eu seguindo suas trilhas.
Minha mãe está agora em outra dimensão
esperando-me para de novo me gerar.
E em minha mente ela está sendo gerada.
Ainda há conflitos:
Nos meus pesadelos e nas minhas lembranças continuam os desencontros.
NA ETERNIDADE NOS ACERTAREMOS com passos CIRCUNSCREVENDO
CÍRCULOS PERFEITOS.
Côncavo e convexo: ÚTERO.
L.L. Bcena, 28/09/2001
*Personagem mitológico.
POEMA 73 – CADERNO: PERDIDOS E ACHADOS.