Lamentos de pai * (Marcado para morrer)

Os pequenos braços esticados me foram tomados

As mãos que seguravam as minhas, nas espumas das ondas

O sorriso cheio de falhas

Meus poderes de herói

Brincadeiras nas madrugadas

A febre a ser tratada.

Os sonhos impossíveis

Planos infalíveis

A cumplicidade indestrutível

As paredes de casa marcadas

A comida derramada

O sofá rasgado

A sala bagunçada.

Foram-me tomadas as histórias redescobertas

A ansiedade

A pressa me puxando as barras das calças

Os pés no meu rosto no meio da noite

Pequenos corpos atravessados sobre o meu.

Agora minha cama é enorme

As paredes estão impecáveis

Voltei a ser comum,

Tenho tempo de sobra para ler

Foram-se os fantasmas

As bruxas

Os duendes.

E que saudades eu tenho daquele enlace no pescoço

Na hora de dormir

Da irrealidade

Dos copos de leite fora de hora

Dos gritos de atraso

Das dores nas costas.

O tempo passou

Meus filhos cresceram

Meu Deus...

Como isso dói!

Marcelo FAS
Enviado por Marcelo FAS em 09/08/2010
Reeditado em 30/09/2016
Código do texto: T2428074
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