Lamentos de pai * (Marcado para morrer)
Os pequenos braços esticados me foram tomados
As mãos que seguravam as minhas, nas espumas das ondas
O sorriso cheio de falhas
Meus poderes de herói
Brincadeiras nas madrugadas
A febre a ser tratada.
Os sonhos impossíveis
Planos infalíveis
A cumplicidade indestrutível
As paredes de casa marcadas
A comida derramada
O sofá rasgado
A sala bagunçada.
Foram-me tomadas as histórias redescobertas
A ansiedade
A pressa me puxando as barras das calças
Os pés no meu rosto no meio da noite
Pequenos corpos atravessados sobre o meu.
Agora minha cama é enorme
As paredes estão impecáveis
Voltei a ser comum,
Tenho tempo de sobra para ler
Foram-se os fantasmas
As bruxas
Os duendes.
E que saudades eu tenho daquele enlace no pescoço
Na hora de dormir
Da irrealidade
Dos copos de leite fora de hora
Dos gritos de atraso
Das dores nas costas.
O tempo passou
Meus filhos cresceram
Meu Deus...
Como isso dói!