Pai
Recostado na poltrona
marrom conhaque,
pernas envoltas na
manta xadrez, pele
conhecida pelo sol,
rosto que a vida
escreveu sua história,
mãos calejadas e
tenazes, seus olhos,
luzidios pela claridade
da luminária vermelha,
convencionam satisfeitos:
dever cumprido!
Os anos passam e
seu corpo murcha.
Tal à flor de lavanda
que, quando inicia a
murchar mais intenso
fica seu perfume,
o odor deleitante
de meu pai,
recheia todos os
espaços atmosféricos
de nossa casa.
No lado de fora,
a chuva escorrega
pelo vidro canelado
do agradável atelier.
A terra absorve a água
voluptuosamente e
sem pressa.
O romântico Chopin
expressa macio sua
singular voz noturna.
Meu pai ouve e sorri.
É feliz e tem consciência!