SOBRE A PARTIDA
Era um corpo de água
Cortando a noite de abril
Era eu seguindo
Para fora do medo
Era um tempo de brisa
De dores épicas
De mágoas
Era um rio
De frias águas
Era um copo de água
Sobre a mesa
E uma palavra na boca
E a boca presa
A tensão de um momento
De perdas e danos
E o amor
Que se perde à toa
Na margem
Redemoinho
Remoinhar pela vida
Rodopiar pela vida
Ser quem se é
Era só o que eu queria
Era sol o que eu queria
Para secar o meu corpo
Molhado pelas águas
Do Rio Madeira
Mas não!
Era eu no meio da noite
No umbigo das trevas
Acolhido pelo não-ver
Era eu sem ser sendo
Vivendo
Na busca de sentido
Mas eu via canoas lá longe!
O boto passou por mim
De chapéu branco e rindo
As águas frias batizavam meus pés
E eu poderia ir para além
Talvez ser em outra terra
O que nunca fui aqui
Ser um anjo endemoninhado
No rodamoinho de mim
Remoer a vida
Extrair o vidro
Criar a lente
Enxergar
Meu pai dizia “vai”
Minha mãe calada
E eu, eterno pescador,
Pecador ao trair
Os sonhos de meu pai
De querer construir
A casa, a palafita mais alta
Na margem do rio
E fui
Sem olhar para o céu, eu fui
E desceu o rio de meus olhos
O rio salgado
De minh’alma tragada
Pela dor de seguir
Mas não precisei voltar
O rio foi comigo
No meu sangue
E olhar
Remoinhei pela vida
Enxerguei mais
Fui quem sou
Mas o rio estava ali
Sempre está ali
E estará
No umbigo das trevas
Da sofrida e doce vivência
De minha infância
Eu sou esse rio!
Era um corpo de água
Cortando a noite de abril
Era eu seguindo
Para fora do medo
Era um tempo de brisa
De dores épicas
De mágoas
Era um rio
De frias águas
Era um copo de água
Sobre a mesa
E uma palavra na boca
E a boca presa
A tensão de um momento
De perdas e danos
E o amor
Que se perde à toa
Na margem
Redemoinho
Remoinhar pela vida
Rodopiar pela vida
Ser quem se é
Era só o que eu queria
Era sol o que eu queria
Para secar o meu corpo
Molhado pelas águas
Do Rio Madeira
Mas não!
Era eu no meio da noite
No umbigo das trevas
Acolhido pelo não-ver
Era eu sem ser sendo
Vivendo
Na busca de sentido
Mas eu via canoas lá longe!
O boto passou por mim
De chapéu branco e rindo
As águas frias batizavam meus pés
E eu poderia ir para além
Talvez ser em outra terra
O que nunca fui aqui
Ser um anjo endemoninhado
No rodamoinho de mim
Remoer a vida
Extrair o vidro
Criar a lente
Enxergar
Meu pai dizia “vai”
Minha mãe calada
E eu, eterno pescador,
Pecador ao trair
Os sonhos de meu pai
De querer construir
A casa, a palafita mais alta
Na margem do rio
E fui
Sem olhar para o céu, eu fui
E desceu o rio de meus olhos
O rio salgado
De minh’alma tragada
Pela dor de seguir
Mas não precisei voltar
O rio foi comigo
No meu sangue
E olhar
Remoinhei pela vida
Enxerguei mais
Fui quem sou
Mas o rio estava ali
Sempre está ali
E estará
No umbigo das trevas
Da sofrida e doce vivência
De minha infância
Eu sou esse rio!