PESADELO DE CRIANÇA



Embalada no berço, a pura inocência
Alegria dos pais, o futuro presente
Cerrando os olhos à materialidade da vida,
Abre desvãos aos mistérios da mente.


O querubim alado, vigilante distraído
Arpeja sons díssonos distante
Vagueia alheio do seu mister esquecido
Da jóia rara lhe confiada, a infante.

Dormia o sono dos inocentes, e então,
O grito lancinante da pavorosa visão:

Amedrontada, trôpega, seguia
À sua volta, ameaçando-a
Mil vultos se viam
Não era coisa efêmera, fugaz.
Visão de abominável terror
Dos mundos infernais,assustador,
De mil maldades capaz!

Mas, se em tudo que  existe
Deus vê uma  mera folha cair,
Aos apelos da criança
Não viria Ele acudir?

Das plagas celestes vem Gabriel
Pelos braços da mãe toma a pequena
Trazendo à terra os poderes do céu
A face agitada ameniza serena

--- Acalma-te, filha trêmula,
Tens medo da escuridão?
Não tape os olhos, criança
Enxergas com a imaginação!

Segue a quietude do silêncio; dentro dele, a voz materna vai se
elevando com a sonoridade maviosa do ninar:

"Dorme, dorme, filhinha,
Dorme meu anjo inocente,
Dorme, dorme, filhinha,
Que a mamãe está contente!