ENCONTRO DE DOMINGO
No domingo, as filhas se encontram
para falar da sina de ser mulher.
Elas se embrenham no colo da mãe,
que também procura um lugar
para esconder suas marcas.
As mulheres falam de suas dores
como se ninguém mais a escutassem.
E de tanto expô-las acostumaram-se
a caber dentro de um pedaço de tempo.
As horas, que passam rápido,
descortinam o véu branco e virgem
da aliança ora desfeita,
do pacto um dia celebrado.
Elas desfiam suas vontades,
como quem tece uma peça única,
que jamais será usada.
Já não são mais donas de nada,
perderam-se entre seus frangalhos.
E a vida - de idas e vindas,
as espera retornar deste sono,
que as envolve na tarde de domingo,
para que nada fique para trás,
nem mesmo o que teima em ser perdido.