O primeiro, para sempre
A meu pai, Lourival Pessoa da Silva
Quando nasci, minha doce mãe
[adolescente
com a franqueza das mulheres
[nordestinas,
me disse feia - veias azuis na cabecinha,
um jeito talvez, de pessoa inacabada -
mas meu pai, vendo feliz, suas duas
[ meninas
me disse linda, ao segurar-me ao colo:
"Já nasceu de olhos arregalados,
olhando o mundo e me namorando"
[ dizia em solo
cantante (repetido anos a fio à magri-
[ ala que eu era)
Segurava-me - contava ela - todo cheio
[ de cuidados
aconchegada ao seu cheiro de homem
[ e de ternura...
Por causa desse decreto masculino,
Do protótipo de primeiro namorado
da minha alma feminina,
cresci numa aura de beleza genuína,
tornei-me essa mulher, de si, segura
sem nenhum medo do bicho macho...
Da sua rede, aprendi a distinguir
[constelações e estrelas,
olhando para o céu noturno faiscante,
e tornada, por ele, numa eterna viajante
do imaginário e do real... geografia ao vivo
e todas as regras de ortografia,
o prazer de ser, aprender e saber,
oriundos das boas-vindas do primeiro dia
Sou assim, dada a entender e
[ respeitar as gentes
porque jamais uma garota
[ foi de tal modo respeitada
Sem ser desconfiada, sou prudente,
[ mas confiante
na bondade alheia...
Exijo apenas lealdade, pois ele
[dizia
que mentira é coisa mais que feia
e não se trai sequer à própria
[ pessoa...
Por ele, quis crescer, ser eu mesma,
Sempre vendo nas criaturas, uma
[ coisa muito boa...
Hoje, octogenário, olha-me com
[ os olhos esverdeados
e me entende, sem que eu precise
[ dizer nada...
Editado em Palavreiros e nas revistas do CEN
clevaneplopes@yahoo.com.br