O passaporte
Edson Gonçalves Ferreira
Ganhei uma cópia do passaporte do meu avô
Voltei no tempo e cheguei em Aveiro
Distrito do Porto
Em Portugal
Ano 1891 e senti que presente e passado se fundiam
Flutuei no emblema cravado no alto: Reino de Portugal
Imaginei meu avô Joaquim Francisco Ferreira no cais
Seu pai José Francisco Ferreira
e sua mãe Felicidade Pinto da Costa a chorar
Partia um jovem com vinte anos de amor
Ia cruzar o Atlântico
Com qual bagagem não sei
Somente tenho ciência de que veio como construtor, oleiro
Trazia uma guitarra dolente
Acaricio o documento
Olho no espelho meus olhos castanhos tristes
Olhos da cor dos deles tão tristes como os olhos de um mouro
Ponho um fado para ouvir
Contemplo, novamente, as armas do Reino de Portugal
E, depois, imagino que farei o trajeto dele
Buscando a raiz
Com que tanto sonhou meu irmão
Que tão cedo partiu
Sob o toque dolente de um piston
Que, agora, está aqui
Ao lado do meu violão
E, quando canto, minha voz parece que sorri ou chora
Porque multiplicada foi
Porque dividida foi
Sou eu um pedaço do sonho de um moço que sonhou
Quão curiosa é a vida
Estrada onde passamos
Sem saber onde vamos parar!
Divinópolis, 02.05.09