Este soneto foi escrito, há muitos anos, para celebrar um aniversário muito querido. Ao relê-lo, agora e aqui, neste exílio a que a exiguidade do pátrio ninho nos condenou, ouço nele o eco dum queixume. Eco e queixume que talvez possa ser partilhado por tantos outros açorianos que – como nós – a vida atirou para a diáspora.

FRATERNO ANIVERSÁRIO

Vai-me a vida emplumando o coração
de mil evocações... Mas a lembrança
que hoje me quer voar, qual pomba mansa,
ao pátrio ninho, não é pena, não...

Recordo a cristalina exultação
que trouxeste ao meu mundo de criança.
O enlevo, os sonhos, a esperança
com que te vi chegar, único irmão!

Depois veio a distância no caminho
a separar-nos, e eu fiquei sozinho,
com aquela dor teimosa resignada...

Raízes desreigadas na ternura
da cepa maternal... ai, se a rotura,
ao menos, se sarasse na ramada!