Até breve
(Num momento pesado)
Eu troquei sua fralda e te dei comida
Te protegi e tive preocupação
Todo dia zelei pela sua vida
Pra você ganhei cada tostão
Você acha que já nasceu pronta?
Não é bem assim que funciona
Por você todo dia eu fazia conta
Meus cabelos brancos você impulsiona
Eu não quero nunca mais falar com você
Tenho apenas uma filha
Vai ser bom quando eu morrer
Pra você se livrar dessa guerrilha
Se você fizer pelos seus filhos
Metade do que eu fiz pelas minhas
Quase viver nos trilhos
Por causa de duas menininhas
Você quer me ver no poço
Então também não quero seu bem
Pra responder este e-mail não faça esforço
Fique em paz, minha amiga, está tudo bem
O problema é que eu não sou sua amiga
Isso poderia até ser
Se você enxergasse que eu sou sua filha
E nunca quis mal pra você
Eu cansei de ouvir tanta porcaria
Jogada em mim a troco de nada
Eu queria saber o que você faria
Se fosse a última chance de cada
Quando eu penso nos meus 24 anos
E olho pra toda atitude que tomei até chegar aqui
Não vejo onde você teve que por panos
Em cima de algum erro que cometi
Quando eu te envergonhei e desonrei teu nome?
Em que dia da sujeira você foi me tirar?
Eu fui companheira até na fome
Fiz o melhor pra não reclamar
Olhe em volta de você e observe os outros
Repare bem nos filhos dos seus amigos
Que nasceram em berço de ouro
E correram bem menos perigos
Quantos deles começaram a trabalhar cedo
Por medo de que o dinheiro faltasse?
Meus empregos eram um arremedo
Pra cada passo errado que você pisasse
Eu me sentia responsável
Pelas duas outras meninas da casa
E até adolescente eu fui agradável
Pra que a estabilidade não fosse rasa
E agora vem você dar a entender
Que eu tenho que agradecer pelo seu comportamento
Ora, eu não pedi pra nascer
Mas enxergo que sou seu tormento
É uma tristeza saber que as reconciliações
Tinham sempre um caráter passageiro
E enquanto você não humilhar alguém até com palavrões
É incapaz de sentir-se inteiro
Fui o melhor que posso ser
Dentro dos meus defeitos e limites
Quis ouvir de vez em quando de você
Alguns conselhos e palpites
Levei em consideração o seu passado escuro
Os anos que vieram tortos
As pessoas que te colocaram sobre o muro
Os amigos que se fingiram de mortos
Você na sua estranha auto-defesa
Contra alguém que tem sua própria cara
Não tem sequer consciência
De que um filho fazer isso é coisa rara
Então pode continuar com seu sentimento
De que eu sou mal agradecida
Coloque na sua única filha todo seu investimento
Esta batalha está vencida
Consigo até imaginar sua reação
Se um dia chegar a ler este poema
Eu sou ruim, sem coração
Pode julgar assim, não tem problema
Cada vez que você tem um acesso
A culpa é sempre desta que escreve
Eu não sei o que fiz pra bloquear seu progresso
Mas já é suficiente, até breve...
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