MUDANÇAS
Mudanças
Josa Jásper
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Em vez de ser fiel a vida inteira,
sem refletir, deixou o seu marido.
Para onde foi, ninguém ficou sabendo!
Só soube que com outro está vivendo,
nesse local incerto e não sabido...
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Traiu a todos de uma tal maneira,
que nem soubemos da separação!
E o desalento, que nossa alma enruga,
ela é quem trouxe, insana, nessa fuga
da grande aliança, celebrada em vão!
Ela mudou-se numa 6ª feira...
E o povo aumenta, inventa e diz besteira;
diz que foi falta de aconselhamento!...
Mas só Deus sabe quanto nós lutamos
pra preservá-la do maior dos danos:
o de arruinar seu próprio casamento!
Ela mudou-se numa 6ª feira...
mudou também a mente e a vida ordeira...
Choramos muito por não vê-la mais
na condição de orgulho da família,
exemplo de mulher - a nossa filha! -
que envergonhou o nome de seus pais.
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Será feliz? Não sei de que maneira!
Terá alguém com quem comemorar?
Quem quer que o faça, longe da família,
não vai beijá-la como a própria filha,
nem acolhê-la, como em nosso lar.
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Disseram que partiu muito faceira,
fugindo, em busca da felicidade.
Com toda a insensatez que hoje a domina,
o fato é que, ao pensar nessa menina,
meus olhos umidecem de saudade...
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Tem-se cercado de uma tal barreira
que a gente quase nem consegue crer!
Gosta de nós? Não sei, nem vejo como...
Se eu for contar as mágoas que já somo,
fica difícil, mesmo, responder.
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Convive, agora, sob outra bandeira,
sem precisar ligar-se a mais ninguém.
Choro por ela, aflito, noite e dia
e peço a Deus perdão pra rebeldia
de quem, confusa, chama o mal de bem.
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Li, num livreto, à minha cabeceira,
que na sexta também JESUS morria;
e que, portanto, o mal que a vida encerra
e que manteve Cristo sob a terra
nunca ultrapassa o seu terceiro dia!
De fato, ela se foi na 6ª feira...
dia infernal, de pranto, de cegueira...
Vim conhecer as dores desse dia!
Fiquei com meu livreto sobre o peito,
cismando se acharia ainda um jeito
de vê-la rindo, em nossa companhia!...
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Mas nos faltava a nova alvissareira
nalgum primeiro dia da semana...
Seu proceder frustrava as esperanças:
fez do futuro teia de mudanças
que assume forma quase desumana!
Ela mudou-se numa 6ª feira...
Ó Céus! Só penso nela, a vida inteira?!
Seu casório... Seu véu... Batom flamingo...
Que dia mais estranho ela escolheu!
Mas, se domingo Cristo reviveu,
quem sabe ela voltasse num domingo?
Dormi. Sonhei que a tinha à minha frente:
cabeça baixa, magra, diferente...
e eu nem sabia como recebê-la!
" - Perdão, papai. Voltei. Eu falo sério!
Você não me educou para o adultério!
Refulja, nesta noite, a nossa estrela!"
Eu quis falar. Tentei... mas não podia:
meu coração chorava de alegria!
De uma alegria extravasada, pingo a pingo...
Cerquei, num longo abraço, essa filhinha
e, estupefato, olhei para a folhinha:
ELA VOLTOU PRA CASA NUM DOMINGO!!!