Casarão
Foi ali num descampado
Onde os meus antepassados
Só souberam construir
Que foi erguido o velho sobrado
E que agora eu vi ruir
Mas as lembranças do passado
Estão vivas no retrato amarelado
Que enfeita a minha estante
E reaviva na memória
Outro tempo tão distante
Na cozinha o antigo fogão
Servia de sala para a reunião
Onde dois velhos lá mateavam
E contavam suas histórias
Aos netos que escutavam
Na varanda uma ramada
de Três Marias centenária
da morada a bela entrada
orquídeas de muitas cores
com os nomes das netas batizadas
também o sótão e o porão
unindo a sombra à escuridão
onde havia quinquilharias
e as crianças em gritaria
com medo do bicho papão
ali cinco filhos foram criados
junto ao trabalho na selaria
onde reunidos no fim do dia
ao som da gaita e do violino
adormeciam em melodia
quando estou entristecido
lembro do jardim bem guarnecido
por carvalhos e camélias
a enfeitar jaboticabas
junto à flores de bromélias
nem mais o antigo rebolo
e nem o cheiro do bolo
nem o opala e tão pouco o poço
estes tempos nunca voltarão
mas os teus valores permanecerão
mesmo que o tempo te seja cruel
e hoje a terra não seja o teu céu
velho casarão, tijolos no chão
podes fazer parte do passado
mas vive em mim o teu legado.
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