Ela

Ela da porta da sala ia para o quintal.

Ela com seu vestido descorado era a palavra final.

Ela não cansava e sua tarefa completava.

Ela tinha forças que na verdade não sabia onde achava.

Ela dormia de medo de perder a hora.

Ela na madrugada o cantar dos galos ouvia.

Ela levantava cedo e sol não nascia.

Ela com o coador de pano no fogão a lenha o café fazia.

Ela a marmita ou o caldeirão no embornal colocava.

Ela era o despertador da casa que ninguém reclamava.

Ela era moça mesmo passando do meio centenário.

Ela não tinha feriado e para missa nunca perdeu o horário.

Ela nunca adoecia porque mesmo sem saúde ninguém percebia.

Ela nunca teve rugas no rosto e fazia rosca de bom gosto.

Ela era sempre procurada por ser lavadeira.

Ela amava a sua horta e as suas roseiras.

Ela adoeceu quando passou dos noventa.

Ela deu exemplo de força e coragem.

Ela teve que ser trocada como criança.

Ela sabia que iria ter pela frente uma longa viagem.

Ela de coração nos deixou essa verdadeira herança.

Osvaldo Luis