Desejo infantil

Desejo Infantil

Mamãe, quando eu era neném

você me achava linda,

e eu sorrindo lhe retribuía

tudo que queria de mim.

Eu era a sua menina

muito esperta e sabida

meus sentimentos infantis

se misturavam aos seus.

Mamãe, dizia eu,

sou sozinha, sem amiguinhos,

quando é que posso ter um

cantinho só meu.

Durmo aqui com a outra menininha,

minha irmãzinha querida

mas é só nenezinho também.

Quero crescer, quero cantar.

Só tenho uma pequena irmãzinha

que não pode brincar comigo.

Estudar tudo enfim.

Mas preciso de um irmão,

que me dê muito amor,

que olhe só para mim.

E quando crescermos

e de força for preciso

ele será nosso apoio.

De voz grossa e pé no chão,

dirá para todos, bravo e audaz:

- não mexa com minhas irmãs,

pois eu sou sem fronteiras,

decisivo e seguro

de pé firme no chão,

e de me fazer entender

sou muito capaz.

Esperei, orei,

e pedi a Deus,

Nosso Senhor,

um irmão.

Para nos proteger,

nas brigas do colégio,

nas horas do intervalo,

no momento da merenda,

nas festas dos nossos primos,

nas reuniões familiares.

E aquele que mexesse comigo,

ou com a minha irmãzinha,

teríamos paz e proteção.

Eu sei, eu sei,

são pensamentos de outrora,

que não fazem mais sentido,

mas que vinham em boa hora

de menina infantil,

e que acabariam por sinal.

Lembro-me um dia, direitinho,

em manhã muito agradável,

papai nos deu a notícia.

Eu contava com seis anos,

entendi tudo, finalmente,

eu teria o meu irmão.

Sim, veio o meu irmãozinho,

forte, feliz e risonho.

Tudo isto em meus sonhos

de sentimento e esperança.

Mamãe me chamava feliz

venha minha linda menina

vamos contar histórias

de Jesus e de amor sem fim.

Ou você conta ao neném

ou então espera por mim.

Ah! Jesus, disse eu

vou brincar tanto com ele,

vou ser para ele,

uma vida de luz,

ele vai me achar a mais linda

e eu serei uma fraterna companheira.

Serei a sua professora,

e quando tiver que lhe mostrar

os mapas do nosso planeta,

mostrarei em todas as aquarelas

e ele aprenderá como

a nossa Terra é bela.

A nossa irmãzinha do lado,

fará as pontas dos lápis

de cores que já imaginei,

tomará as tabuadas

sob minha coordenação.

Quantas vezes imaginei

ir de bola ao barraco,

levá-lo à creche

em roupa de marinheiro.

Quando no Jardim Infantil

lá ia eu sempre no horário

com as suas mãozinhas

dadas entre os meus

dedos felizes.

Ir de bicicleta até o largo

da pracinha da nossa rua.

Em todas as circunstâncias

com palavras sóbrias e amigas

os meus pais conversavam comigo,

para me ajudar a compreender

o verdadeiro sentido da vida.

Naquela tarde de verão

compreendi, sim, como entendi,

que a minha missão

era muito grandiosa,

fazia parte de uma casa

onde tudo era especial.

Ah! Minha rua,

se ela pudesse contar

quantas vezes chorei

na pracinha,

quando me contaram

muito tristes que o meu querido

era muito especial.

E eu não entendia.

O que era ser especial?

Eu também era especial,

pois adorava a irmãzinha

e agora o outro irmão.

eu que era especial,

sim, pois somente eu

tive dois nenêns,

para minha principal

preocupação.

E agora?

Onde estavam meus sonhos?

Jogados todos no chão?

No balanço do seu corpo,

nos gestos esquisitos,

mas para mim, lindos,

o tremer das suas mãos?

Passou o tempo,

hoje, quando olho

os meus desejos

infantis, sem remorso

algum, eu não choro.

Desejos são desejos,

se realizáveis, que bom!

Senão fica guardadinho,

nos arquivos do coração!

Aprendi a ficar calada,

aprendi a ser pensativa,

muito reflexiva,

e a ter sincera paz.

Gostaria que tudo fosse diferente?

Talvez sim, talvez não.

Mas para mim este irmão,

tão adorado irmão

é meu semblante

já juvenil da minha luta.

É motivo de nossa alegria,

pois o mesmo sente

a nossa outra menina.

E quando mamãe está no trabalho,

eu me sinto muito importante,

pois passo horas dificíeis,

aprendendo a conhecer o

muito desconhecido,

pois sou a responsável,

por tudo que o envolve,

e traço planos e planos,

que em arquivos de sonhos

que se sucederão,

não sei em qual futuro,

mas apressa o meu regresso de amor.

Irmão, você para mim é o meu motivo,

de alegria, a vida ganha sempre

um grande sentido novo,

e assim...

o amor que tenho por você

é tão grande,

que foge à intimidade

e fica por este mundo

por toda a eternidade!

Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 05/09/2008
Código do texto: T1163694
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