RELENTO
por Regilene Rodrigues Neves
Raízes ao relento
Frio e fome de sentimentos
Expostos na pele
De aparência rude
Pegadas na areia sem rastro
A poeira do deserto
Leva o caminho
Deixando para trás seu ócio...
Pela estrada um cacto
Cheio de espinhos
Sem sentir a última seiva
Orvalhada de esperança...
A dor cravejada na alma
Não consegue romper o firmamento
Dilacera a carne
No ópio da vida...
Corpo bruto
Lapidado na essência
Sensibilidades inesgotáveis
Jorrando da fonte...
A alma um lugar seguro
Onde atraca o barco
Que a deriva do seu deserto
Navega pelo inseguro...
Medos vestidos de sonhos ainda meninos
Recolhem um olhar triste
Crescido longe do colo do amor...
Somente afagos de ignorância
Na sombra da inocência
Crescida longe da infância
Amadurada nos dissabores
Sem raízes que vissem crescer
Uma árvore frondosa...
Somente galhos ressequidos
Folhas quebradas
Vira crescer sobre o deserto
Um corpo sem raízes
Firmadas em solo fértil de amor...
Restos do abandono
Ficaram soltos pela alma
Roubando as migalhas de carinho
Jogadas para matar a fome de amor
Que mesmo sobrevivendo
Não conseguira esvair sua dor
Que prolifera como erva daninha
No meio da única flor que sobrevivera no deserto...
A estrada continua sem abrigo
As sombras encontradas
Vêem ao relento suas raízes
As marcas já puídas
Envelhecem sobre o tempo
Num único encontro afagara
De um jeito tosco seu abandono...
O caminho continua seguindo sem destino
Levando para algum lugar do infinito...
O cansaço repousa no corpo
De aparência estranha
Fingindo nenhum sentimento,
Para não demonstrar o coração
Carregado de sôfrega emoção
Num resto de vida de raízes ao relento...
Em 02 de setembro de 2008