PAI ESPECIAL,

PAI ESPECIAL,

ESTOU PAI DE VOCÊ...

"MÃE,

escrevo-lhe,

sorrateiramente, para me ajudar a pensar...

Não falo muito, pois tenho aquela fama de sizudo,

de sério; extrapolar meu jeito, seria um trejeito,

seria um perigo, para minha expressão de fortaleza.

Mas é hora de decisão.

É hora de pensar. É hora de agir.

O tempo está lá e é meu inimigo,

ou seria amigo corrigindo outras paragens?''

"Sou pai, amo meus filhos

Mas que temos feito desde então?

perguntam o que estão ao meu redor.

E ainda, mãe, reflito:

Não estaria você, querido amigo,

meio a turbilhões de pensamentos,

um pouco afoito?

As invovações pedagógicas e psicológicas,

e as diversas opções de melhora têm sido,

com você, companhias neste processo de dor.

''Não se esqueça da mãe do seu filho."

Eles dizem.

"Isto não responde às minhas indagações:

"Mas por que ter um filho deficiente?

Por que ser e situar-se como pai

de uma criança que está especial?

E você, mãe, em silêncio,

fica fechada e silenciosa.

Não contra-argumenta

os meus lamentos.

Não sugere o meu choro,

não sugere melancolia."

Por quê?

Nada me diz que você irá mudar,

irá ficar depressiva.

Você tinha este direito ou não quer!!??

Eu fico depressivo.

E carregado de metáforas e vocábulos

na minha poesia funesta, digo:

Você, mãe, é sempre estranha, é muito tranqüila.

''As vezes, me incomoda este seu jeito de ser.

Você não tinha que sofrer?''

Tranqüilamente você me diz:

"Que nada!! Tudo passa!!

Estamos felizes por que temos que ser felizes!!

Longe de mim, querer ser diferente"

E ainda, para melhor e minha inspiração:

Quantas vezes, ele,

o meu pequerrucho

abriu a boca para dizer,

o quê?

o silêncio trêmulo

do momento do encontro;

falar para quê

na verdade,

ele nunca disse nada.

Seria eu também

o pai de uma criança celestial?

sou anormal?ele é angelical?

ele está especial?

Quanta confusão!!! Meu Deus!!

Poderia dizer, sem medo de ser feliz,

não gosto do nada especial!!

Gosto do comum, da rotina, do dia-a-dia,

chupar laranja com casca e bagaço.

para ter dor de barriga.

Não cheguemos a tanto,

saio do desvario

a sensatez me avisa.

Pensar em Bueno de Rivera

me faz chorar.

Ele dizia assim:

"Fecho os braços e nada,

estendo as mãos: ninguém.

Não é anjo ou espectro

nem é corpo, é a luz

me chamando: filho"

Eu completo assim:

''Mamãe sempre"

''Papai a cada instante."

Sim, estou especial,

não por ser especialíssimo em algo.

Pelo contrário,

a polivalência e o lato sensu fazem

parte da minha vida.

A divisão de departamentos, dos meus valores.

MÃE,

estaria nosso filho em delírio?

ou ele é Beleza Mortal e Infinita?

no entanto,

arranca dos meus caules mais ocultos

os sentimentos mais exasperados...

MÃE,

Seria ele um lírio de versos,

verdades filosóficas

de um passado distante?

por que tão deficiente?

sem estatuto para a normalidade?

o vazio que paira acima de tudo?

além do tudo e é eterno?

PAI,

Na seara do Pai-Deus

Não existe deficiência

Existe realeza da diferença

de si mesmo.

Há escolas, há artistas

há formas,

sem formadas formas,

nem praxes, nem estatutos

para o que faz o Beija-Flor.

PAI,

A arte é azul.

Imortal, Infinita,

Cada pessoa vale por si mesmo,

Isto é deficiência?

Ou benemerência,

de Quem muito nos quer bem?

Quando pensar em Bueno de Rivera.

Separe caminhos:

Poesias e poesias não fazem único poeta.

PAI.

O mesmo Bueno de Rivera

disse:

"Meu irmão, olha o céu

O arco-íris da aurora

surge através do pranto...

Sobre os homens futuros

A alvura da fé, a voz dos poetas."

e diga ao seu filho sempre,

que o fará feliz:

"Sou especial porque estou PAI de você."

Silvânia Mendonça Almeida Margarida - 26.04.96

Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 30/08/2008
Código do texto: T1153375
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