PÉROLA RUBRA
Enquanto lá fora os pingos da chuva
chicoteiam esse início de tarde aleijada,
eu aqui dentro visto essa tristeza como luva,
medindo o tempo de cada trovoada.
Ouço tua música predileta
aqui lembrando de ti...
A canção me afeta
e eu percebo o que antes não vi.
Nesse momento, à tua semelhança,
meu coração sua em pérola rubra
talvez, por força de uma herança.
Já que não há dimensão que encubra
a competência dessa aliança...
O dia começa a se acalmar,
a chuva vai se extinguindo,
já nem ouço mais trovejar.
Mas, a dor que estou sentindo
nenhum remédio fará sarar.
Tua música segue, repete e repete...
Já a ouvi por vezes infinitas
Mas, não encontrei nela o valete
das minhas cartas esquisitas.
Até a chuva cessou.
As nuvens encabuladas
se aquietaram amuadas
e o dia bocejou...
As pérolas que caíram do céu
agora, permanecem cristalizadas
em poças que um fato réu
deitou num jardim cinzeladas.
Tudo voltou ao seu normal:
Tu longe de mim como sempre estivesses
a suspirar por um amor fatal.
E eu aqui amarrada em teias de preces,
fazendo da tua música a minha cal,
na construção de versos que só tu conheces.