Filho do mundo...

Teu filho vem de porta afora no teu ventre

sabendo do mundo apenas por tuas faces

e, se tendo a fome grande, comes migalhas,

e é essa tua mesma fome a mãe de tudo.

Dou-te um filho sórdido e embriagado

que desceu nas lágrimas de um raro pecado.

Fizemo-lo impiedosamente dentro da noite

antes que nos repreendesse a madrugada.

Há um pai que avista um filho alheio.

Nem tudo o que é bom se presta a ser usado

e há venenos doces em bocas mal beijadas.

Sê a mãe dos teus desejos vivos

e nada do que disseres eu acredito

porque o próprio amor de nós nos é maldito.