Meu alimento

Tomo as vozes dos explorados

E faço destas a prece dos bêbados.

Seguem as tardes ensolaradas

de busca fortuita...

Espaços na vida em solavancos,

Carne aberta em mente aflita,

Tocos que sangram em relva, barrancos.

Tomo o gozo das putas contidas,

Em medos e revoltas, meu grito de prazer,

O toque perfeito do corpo ausente,

Ascendente, a estrela, o motivo, o desejo.

O desvairado prazer do prazer molhado.

Sonhar e sentir.

Tomo a poesia mareada essência do casamento velado,

Uma vida em transe e ritmo,

Êxtase de meia letra perdida,

página abandonada à própria sorte,

Goma de árvore, casca da dor, papel.

Tomo o livro escrito em vestes longas,

O grito que não escapa a tela plana,

Explorado sentimento do corpo vetado,

Capim mastigado do leite seu,

Presença contida em versos pudicos,

O cântico do estomago de um cupim qualquer.