QUASE PERFEITO
Sou um ser humano quase perfeito,
Possuo tudo que acho ter direito,
Vejo, ouço, falo, sinto o paladar,
Penso, Danço, sei andar,
Como, deito, gesticulo,
Agacho, levanto, pulo.
Sei que seria querer demais...
Mas Deus sabe muito bem o que faz,
E com infinita sabedoria, pulverizou,
O que cada um necessitou.
Veja o que eu seria,
Se por acaso ou ironia,
Tivesse estes " ítens " a mais :
Já imaginou, meu rapaz ...
Ter sempre o perfume de uma flor ?
Conseguir manter um grande amor,
" Falar " sem palavras, como um cão,
Ter a força de um leão,
A rapidez do leopardo,
Pequeno, como a formiga...
Carregando grande fardo ?
Ter o poder da girafa amiga,
Para conseguir coisas no alto,
A robustez do elefante,
Como o gato, não ser incauto,
Como o cavalo, elegante ?
Saber como um pássaro, voar...
Sem motor, nem explosão,
Que bom seria nadar,
Com a astúcia do tubarão.
O canto dos pássaros, que beleza !
Se eu tivesse esta natureza...
Se não caíssem meus cabelos,
Como o dos semelhantes macacos
E a resistência dos camelos ?
Seria um belo fato !
Alimentar-me de verde e sal,
Como ensina o gado, legal,
Sem medo de alta pressão.
Penso asim, meu irmão :
Matando com judiação,
Comendo carne adoidado,
Sou pobre coitado,
Escravo da medicação.
Sem temor ao diabetes,
Nada de balas, chicletes,
Comeria puro mel.
Às abelhas, tiro o chapéu !
O mesmo faço ao beija-flor...
Com todo o carinho e amor.
Desejaria como a árvore sadia,
Ceder ar e sombra todos os dias,
Dar frutos e flores, queria.
Se soubesse como o sapo saltar,
Como o peixe, sob a água respirar,
Ter do melhor amigo, o cão...
Faro perfeito, aguçada audição.
O carisma dos golfinhos,
O amor dos passarinhos,
A esbelteza das gazelas...
Veja que coisa mais bela !
Queria não ter uma ruga...
Com a paciência da tartaruga,
Poder engordar como a baleia,
Sem ficar com a cabeça cheia.
Da canguru, o cuidado,
Com o filhote amado,
Da aranha, queria a arte...
Mostraria em toda a parte
Tendo a pele da onça ou marta,
O frio, mandava pro raio que o parta !
A lição do João- de- Barro...
Faz a casa sem planta, um sarro !
Gostaria, da araras,
Sua beleza rara,
Do valente gavião,
O poder de decisão.
Queria o veneno da cobra,
Mas nunca para matar...
Somente para curar,
Seria uma boa obra.
Se pudesse o frio agüentar,
Como o pingüim polar,
Ter tanta tranqüilidade,
Do urso em qualquer idade.
Das focas, a simpatia,
Uma coisa que queria,
Ser unido como os veados,
Quando em perigo, alertados.
Se tivesse da borboleta linda,
A delicadeza bem - vinda
E a força num murro...
Como o coice de um burro.
Desejava poder inspirar
Tanta coisa, como o mar,
Das montanhas, a nobreza,
Seria uma beleza !
Há tanto mais pra somar,
Dífícil tudo lembrar.
É apenas suposição,
Pois não posso jamais, irmão,
Pedir ao Criador
Que nos deu com tanto amor
Tudo isso que já temos
Mais o fato de vivermos...
Que acrescente ao que nos deu
Tudo que não é meu, nem seu
E, se desse tudo que eu disse,
Seríamos quase perfeitos...
E diríamos, batendo no peito :
- Eu não preciso mais de Deus,
Seríamos todos ateus...
Auro.