Amor que se foi

Esbelta, linda.
Veio apressada. De repente...
Adiantou o encontro...
Eu não estava preparado para recebê-la.
Mas a recebi com euforia...

Não imaginava com seria.
De lado. De pé, como ao acaso...
A olhei. Extasiei-me com os seus olhos claros.
Cor do mar, avistado de minha janela.
Linda. Esperta. Alegre.
Meu coração saltou.
O portão do meu coração
Correndo fui abrir.

A convidei. Ela veio graciosa...
Esbelta. Leveza. Pureza.
Entrou. Eu era só desculpas.
Casa suja. Desarrumada. Jogada.
Vida de homem solitário. Urgente...
Coração desarrumado..

Sentou-se.
Não consegui desgrudar os olhos...
Sinal em cima dos lábios.
Parte esquerda da boca.
Deu vontade beijá-la.
Não o fiz, claro.

Alta. Esbelta.
Sorriso solto.
Boca perfeita.
Cabelos lindos.
Pescoço firme.

Paixão. É o nome do sentimento que me resta...
Saudade, inconformismo, lembranças.
Sempre e sempre serão.
Sonos maus dormidos.
Lembranças e mais lembranças.

Apressei-me em arrumar tudo.
Comprei flores, plantas.
Agora olho tudo vazio.
As plantas estão lá.
Mas ela se foi.
O sabor dos bolos, dos beijos e dos sorrisos.
Esses, luto para não irem-se...
Mas irão. Como tempo irão...

Ficará, talvez, uma névoa lembrança
Da felicidade rondando...
Talvez eu sorria sem graça.
Talvez eu mude o pensamento de direção..
Distraindo-me com uma coisa qualquer...
Talvez eu nem lembre mais...

Ou talvez eu enlouqueça com as lembranças...
Se eu tiver outra. Talvez compare as virtudes...
Talvez não. Talvez evoque-a nas lembranças...
Talvez não a ache mais...

Fragmentos das lembranças. Aqui e ali...
Se vir uns olhos claros, brilhantes,
Da cor do mar visto de minha janela,
Logo vou lembrar dos dela...
Porque na verdade, as lembranças não se irão...
Ficarão firmes para me torturarem
Do prazer vivido, de tê-la tão íntima...
De segurá-la tão forte.
De beijá-la tão ofegante.
De sonhar em ser feliz nela...
E não tê-la mais...

Vou viver, andar, mudar...
Talvez este lugar se vá nas lembranças...
Ficará, contudo, o mar como lembrança...
Ficará porque não dá para fixar uma gota...
Mais um montueiro de ondas
Se perdendo na areia.
Sem que ninguém mais as note.
Somente eu... quando olhar uma onda,
Vou lembrar que ela se foi como uma gota,
Da lágrima de meus olhos
Que se perde no oceano das lembranças.
Torturantes lembranças.